sábado, 10 de julho de 2010

Jornalismo e vozes


Hoje recebi uma mensagem de um sacerdote que trabalha em Angola reclamando que os jornalistas só garantem visibilidade midiática aos padres pedófilos e que nunca falam sobre os muitos religiosos que dedicam suas vidas pelos menos afortunados. A queixa é legítima e não aconteceria se nos manuais em que os jornalistas estudam o discurso fosse tratado para além do texto escrito. Normalmente as orientações que estes profissionais recebem quanto a produção textual referem-se a clareza, coesão, objetividade...Em outras palavras, pensem no que a Ana Paula faz e façam o avesso! Eu até reconheço que uma informação pode ser entendida mais rapidamente quando disponibilizada em uma frase curta. Observando minha irmã dar aulas de natação, por exemplo, percebo que as informações que ela disponibiliza para os alunos sob a forma de instruções são melhor compreendidas e executadas quanto menor  for o número de palavras que ela usar. Em muitas circunstâncias o excesso de palavras confunde o receptor, que escolhe seguir outros caminhos interpretativos na mensagem. Mas isso não significa absolutamente que o receptor só esteja apto a apreender frases curtas e simples com palavras conhecidas! Tampouco que o jornalista deva ater-se a esse tipo de construção. E de que maneira a análise do discurso poderia ajudar aos jornalistas a saírem dessa pobreza discursiva e quem sabe diminuir a aflição do padre angolano? Penso que é preciso reconhecer a pluralidade de vozes presentes em cada notícia e produzir matérias que possam garantir a materialização de cada uma dessas vozes! Não se trata de dar voz a sujeitos de diferentes categorias, mas de identificar as vozes presentes em cada fala para então não haver uma mensagem uníssona. 

2 comentários:

  1. é complicado! mesmo assim, me vejo inumeras vezes, tendo que substituir uma única palavra pra uma mais popular, mesmo errada, pra que me atendam no comando, isso não quer dizer que não retorne ao correto de se dizer. Exemplo: flexione o joelho x dobre a perna

    ResponderExcluir
  2. Apesar de entender a confusão (pela inconsciente omissão) que pode ser causada pela exagerada objetividade, ainda prezo por ela em alguns momentos. Temo tornar-me entediante ao prolongar meus discursos - quaisquer que sejam eles -, e apelo à simplicidade das poucas palavras na maior parte do tempo, a menos que as circunstâncias exijam de mim o contrário. Ainda assim, reconheço a importância dos famosos "dois lados de uma história", da imparcialidade necessária àqueles que trabalham com a disseminação de notícias e eventos. Mas há justiça na informação?

    ResponderExcluir