domingo, 30 de setembro de 2012

qualidade da programação X competências cognitivas e intelectuais da audiência


A discussão sobre a falta de qualidade dos programas vespertinos na televisão brasileira (programas que têm similares em quase todas as televisões do mundo) deixa-me aborrecida pelo excesso de lugares comuns e quase nenhum avanço reflexivo sobre o tema. O problema parece ser o conteúdo dos programas. Para  alguns os conteúdos oferecidos não correspondem de fato ao que a população gostaria de ver, a programação é de mau gosto, mas a população teria gostos mais refinados. Para outros sujeitos envolvidos nesta discussão,  a programação é exatamente aquilo que a população deseja ver, uma programação de baixa qualidade para uma população medíocre. Para começar, imagino que valha tanto a pena discutir se a programação é baixa qualidade (tentando abranger a complexidade do termo), quanto se poderíamos apenas supor que a população é medíocre ou de bom gosto e mal atendida. Além disso, não podemos esquecer que em cidades como São Paulo o índice de audiência é medido minuto a minuto. Isso significa que qualquer conteúdo colocado no ar tem em um minuto o veredicto da audiência, queremos ver isso ou não queremos ver isso. Definitivamente a população quer ver o que tem sido exibido nestes programas vespertinos, que fazem não mais que tentar dar a população o que ela deseja. É por isso, que em alguns programas vemos atrações anunciadas entrarem e saírem de cena em alguns minutos com apresentadores dizendo "Obrigada por sua participação, foi muito bom ter você aqui, esperamos ter você novamente aqui em breve" e "tchau"! Acho temeroso que as discussões sobre a qualidade da programação X competências cognitivas e intelectuais da audiência reduza os conteúdos a duas categorias: culturais e não culturais, ou em outras palavras, eruditas e populares. Sem dúvida os programas vespertinos são populares. A minha participação e a participação dos meus alunos no programa Mulheres da TV Gazeta, poderia ser tomado como ponto de partida para percursos alternativos nesta discussão. Nossa participação era sobre ciência, assunto considerado de elite, mas que a audiência adorou, como indica o tempo médio de 40 minutos no ar. Mas se esta audiência "dita popular" aprecia temas "ditos eruditos" não podemos dizer que uma audiência "dita intelectual" aprecia assuntos "ditos populares". Ponto para a audiência popular, cujo repertório é mais diversificado! Mais do que categorizar conteúdos e audiências, precisamos pensar programas provocativos para a pensamento e começar a dialogar de maneira real com a população que passa horas em frente a televisão. 

domingo, 16 de setembro de 2012

Indigesto mas POTENCIALMENTE instigante

Aqui em casa temos visto a série Breaking Bad na mesma regularidade que os personagens do filme fazem e consomem o cristal azul. Estamos viciados. Os episódios são densos, tratam dos valores politicamente corretos sob uma ótica torta e integralmente reais. Ousa dizer aquilo que ninguém diz. Afinal quais as fronteiras do lícito e do ilícito? Afinal o quanto de maldade existe naturalmente dentro de cada um de nós e o que faz com que usemos ou não esta maldade? As temporadas são artisticamente organizadas (sim, isso é arte) de maneira a causar no telespectador repulsa, curiosidade e "dependência". Assim, ficamos sempre ali a espera do que está por vir. Os personagens são maravilhosos em sua complexidade (e a interpretação dos atores torna a coisa ainda mais bonita). Embora a temática seja indigesta e haja muito sangue e violência, é uma espécie de exercício para o cérebro, ou quem sabe um saboroso alimento. O percurso discursivo é tudo menos linear. O pensamento de quem assiste é convidado a caminhar livre e temeroso pelas cenas em que questões éticas e comportamentais são propostas, como quem caminha em uma casa enorme, cheia de quartos e passagens secretas. A gente nunca sabe onde cada caminho vai dar e quem vamos encontrar pelo caminho. Comentem!!