quinta-feira, 22 de abril de 2010

Pode o educativo deseducar?

Do ponto de vista da legislação, um programa educativo seria aquele em que a produção declara a finalidade educativa de seu produto. Além disso, a recepção identifica certos programas como educativos, como é o caso das tele-aulas e os documentários, graças a reprodução de elementos da sala de aula em cena. Há, entretanto, um outro caminho para construrimos uma definição para educativo, deslocado da instância da produção, para as leituras interpretativas dos sujeitos na recepção. Assim, é a recepção que determinaria se um programa é educativo ou não, a partir das aprendizagens desencadeadas pelos produtos. Esta definição, reconhece haver na recepção um sujeito capaz de elaborar o conteúdo a ele ofertado, mesmo que isso ocorra em níveis bastante elementares. O que parece-me um avanço, tendo em vista que muitos programas considerados educativos têm afirmado que a baixa audiência alcançada por eles relaciona-se á incapacidade intelectual e cognitiva do público. Como ocorre na sala de aula, é o aprendiz responsabilizado por não aprender. Além disso, esta definição convida-nos a repensar o papel dos programas televisivos na sociedade, ao assumirmos que todo e qualquer formato e conteúdo encerra uma dimensão educativa (o que aliás está previsto na lei e é condição para que uma concessão de sinal ocorra). Desta forma, nenhum programa poderá se isentar da resposabilidade do imapcto que tem na vida das pessoas, declarando não não ter nem a intenção nem a obrigação de educar, encontrando-se comprometidos exclusivamente com o entretenimento. Cada produção precisa conhecer os conteúdos que dissemina, de maneira a aventar as possíveis leituras e aprendizagens que eventualmente poderão deflagrar e, dependendo do que é percebido neste momento, promover rearranjos nos conteúdos e formatos. Não podemos, por exemplo, para garantirmos uma piada e a audiência, reforçar e disseminar o preconceito com certos grupos da sociedade. É verdade que isso torna o processo de produção mais sofisticado e demorado, mas não o inviabiliza, e os benefícios que teríamos a longo prazo valeriam este esforço. Mas o problema não se encontra apenas nos programas de entretenimento, que rejeitam a dimensão educativa. Se é possível supor que a recepção aprenda algo com os programas que buscam apenas o divertimento, é igualmente e tragicamente suposto que programas educativos possam deseducar. Além de alimentar o eventual desinteresse do telespectador por conhecimentos e pela aprendizagem, ao replicar o tédio da escola no suporte televisivo, alguns programas educativos reforçam aspectos duvidosos do conteúdo ou mesmo disseminam equívocos. Basta ver alguns documentários sobre predadores da natureza para vermos tubarões, leões, e até mesmo delicados micro-crustáceos sendo tratados como feras que matam por mero prazer, verdadeiros assassinos. Se não há garantias das aprendizagens que irão ser empreendidas pela recepção, tendo em vista que o aprender é um processo pessoal, poderíamos pelo menos ter cuidado na escolha do repertório inoformacional que iremos disponibilizar para que os sujeitos sejam incentivados ao pensamento.

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