Hoje abri o jornal e lá uma notícia estarrecedora. A Rede Globo anuncia que tirará do ar a Sessão da Tarde. Se você é brasileiro, diria que é quase impossível não saber de que Sessão da Tarde estou a falar. E mais, imagino que sendo brasileiro a simples menção da atração televisiva deflagre em seu imaginário todo tipo de emoção ternurenta com as lembranças do tempo em que você era um jovem cuca fresca e podia perder uma tarde inteira vendo televisão, espichado no sofá. Alguém poderia dizer que estou sofrendo de uma crise nostálgica, ou ainda que tenho problemas com mudanças. Mesmo admitindo que é pelo menos um pouco do primeiro (e nunca medo de situações novas!), penso que meu estarrecimento passa por outros territórios. Por exemplo, provavelmente eu decidi fazer Biologia influenciada pela Sessão da Tarde. Na verdade fiquei surpresa quando entrei na faculdade e ouvi dos meus colegas depoimentos tão parecidos com o meu sobre o peso que filmes como "Elza, a leoa" e "Clarence, o leão vesgo"(frequentes na Sessão da Tarde) tiveram na escolha da profissão. Isso e o já extinto "Mundo Animal", atração que passava seguidinha a Sessão da Tarde. A Rede Globo parece não perceber ou assumir o papel que tem como colaboradora na formação dos jovens desse país. Sabem que não sou adepta da concepção de que a televisão é uma (má) influência para os jovens e coisas do tipo. Mas há uma responsabilidade social nos meios de comunicação, nenhum entretenimento é só entretenimento, todos os programas são educativos de alguma maneira. E a Sessão da Tarde faz parte do pacote que vem educando a população brasileira nos últimos 30 anos. Os filmes e seus conteúdos leves, despretensiosos e nada preocupados com grandes reflexões existenciais exibidos na Sessão da Tarde eram uma espécie de vitrine do mundo para nós. Eram ingênuos em muitos aspectos. O filme "Elza, a leoa" por exemplo, é uma contradição e uma ofensa para aquilo que ecólogos e biólogos possam pensar sobre os animais. Afinal, a Elza bebê precisou ser adotada porque sua mãe havia sido assassinada. Mas para mim, era um filme de África e suas savanas, e mostrava o amor que pessoas podiam nutrir por animais. Elegi no filme a partir da menina que eu era que aspectos do filme iriam servir de subsídio para minha imaginação. Alguém poderia me dizer, ok, mas você não sabe as porcarias que andavam a passar nas tardes Globais...Muitos socos, mulheres seminuas e preconceito contra negros e gordos? Quem elege que parte desses filmes subsidiará as reflexões do telespectador é o telespectador, e é preciso apostar na competência pensante desse telespectador! É uma pena. Não seria possível repaginar a atração? É mais fácil eliminá-la do que pensar estratégias para torná-las mais contemporânea? Querem sugestões?